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Foto do escritorEquipa Clínica Navegantes

O Medo de Regressar


Vivemos muito tempo entre quatro paredes, confinados, afastados das nossas rotinas habituais, com alguns projetos suspensos e de certo modo a vida interrompida e a adaptação não foi fácil.


Chegou agora o momento de algum regresso, o possível e é natural que para muitos possa surgir grande inquietude, medo, angústia de sair, de regressar, podendo haver mesmo alguns que não querem sair.


Na verdade, algumas pessoas podem experimentar nesta fase de transição, de progressivo regresso à normalidade possível uma intensa angústia e o simples ato de abrir a porta de casa, do prédio, a antecipação de experiências antes tão rotineiras, como ir às compras, regressar ao local de trabalho podem resultar em grande ansiedade, o que na realidade é até normal. Afinal continuamos a viver entre “um inimigo invisível”, que continua a existir e por esse motivo o medo continua a existir, assim como a insegurança de “viver “fora de casa que pode potenciar aumento do stress e ansiedade.


É preciso confrontarmo-nos com a realidade, estarmos informados, nos próximos tempos, a vida não vai ser de fato como a conhecíamos até agora e por isso é essencial estarmos munidos de estratégias que facilitem a adaptação saudável para esta mudança, sobretudo competências de flexibilidade e resiliência são instrumentos poderosos.


A questão é que a incerteza se mantém, assim como o vírus e pode acontecer aumentar a interpretação da dúvida, da incerteza como algo negativo, ou seja, se não sei o que vai acontecer por vezes é sinónimo de mau desfecho. Este cenário é por vezes agravado por todo o novo protocolo implícito nas saídas de casa, máscaras, tensão com as medidas de prevenção e proteção.


Sabemos que as mudanças e adaptações na vida levam algum tempo a aceitar, é um processo gradual e por isso mesmo existem estratégias práticas que nos podem ajudar e motivar a regressar.


· Dar tempo, não definirmos planos extremistas de regresso, tudo ou nada, pequenos passos, fazer tentativas de sair à rua, de exposição gradual às situações e contextos que eventualmente possamos recear.


· Rotinas e objetivos- Ocupar o tempo, mente ativa com ocupações e atividades gratificantes, evitar estar tempo excessivo deitado, ter uma rotina de horários para trabalhar, lazer, refeições, exercício etc.


· Sentimento de universalidade e pertença- Na verdade, não estamos sozinhos, nem no esforço de confinamento, nem no receio do desconfinamento.


· Flexibilidade- estamos a viver um período de transição e de progressiva aceitação que alguns contornos da vida quotidiana mudaram e por isso é essencial apesar do medo, agir. A verdade é que o evitamento de situações que nos geram receio ou desconforto tende a aumentar o medo desses contextos.


· Aceitar o que se sente- Uma multiplicidade de emoções que podem surgir, frustração, medo, tristeza pode ser normal.


· Avaliar o presente- Foco no presente, o que está nas minhas mãos, no meu controlo fazer para tornar esta nova realidade o melhor possível.


· Pensar- A incerteza, o medo levam-nos muitas vezes a pensar com filtro negativo, a exagerar a destacarmos tudo o que de negativo pode acontecer e por isso mesmo é preciso ampliar as perspectivas, procurar outras interpretações e flexibilizar o nosso pensamento.


· Acreditar- É preciso acreditar que cada um de nós irá cumprir o seu papel, de se proteger, de proteger os outros, mas é preciso continuar a Viver, isso é indispensável.

O regresso à progressiva normalidade pode trazer na bagagem muitos destes fatores antes descritos como normais, contudo se a intensidade, persistência, medo, ansiedade, evitamento, pensamentos emoções estiverem a ter um impacto no seu funcionamento normal e na sua saúde física e mental, procure ajuda profissional.


Sónia Serrão - Psicóloga Clínica

Coordenadora Clínica Navegantes

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