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Sónia Serrão - Psicóloga Clínica

Dizer Adeus em tempo de Pandemia


Irreversível, inevitável, faz parte da vida, natural, mas não gostamos de falar dela.


É assim a morte, tema ainda tabu, não falamos para não valorizarmos, para nos esquecermos, mas a verdade é que ela não se esquece de nós, dos outros, daqueles que amamos, daqueles que não conhecemos.


Quando falamos de luto, num sentido geral, falamos de um processo natural que ocorre como reação a uma perda, a um rompimento de um vínculo, de um laço. Muitas vezes, algumas perdas não estão diretamente ligadas à morte de alguém querido, mas por exemplo, a experiências e oportunidades não vividas, não realizadas, a relações que passaram a ser distantes. Podemos também neste tempo de pandemia, falar de lutos relacionadas com as perdas de empregos de muitas pessoas, de projetos de vida, de um luto individual, mas também de um luto coletivo, pois na realidade, estamos mais sensíveis às perdas dos outros.


Em tempo de pandemia dizer adeus tornou-se ainda mais difícil, muita coisa mudou e até o luto não escapou a esta nova forma de reagir à perda que agora diferente no que diz respeito às despedidas, aos rituais, ao dizer adeus.


Mas como se vive o processo de luto, um processo já por si doloroso e complexo, no momento em que vivemos, de distância e distanciamento físico. É sem dúvida uma vivência mais violenta, exigente, que implica modificação de vivências e de rituais que podem efetivamente ter impacto na saúde psicológica dos que ficam.


Vivemos um tempo em que muita coisa não é permitida, está vedada à família, a despedida, o abraço, o toque, o olhar que diz estou aqui que algumas vezes, quando possível, é substituído por um telefonema.


Neste tempo excecional é essencial ter em atenção que os processos de luto não devem adiados, a impossibilidade da despedida, do ritual que implica a proximidade com os outros, o suporte social, o prestar homenagem, de certo modo, o reconhecimento público da perda, às vezes não existe.


É verdade que temos de encontrar modos alternativos, modos de realizar as cerimónias de despedida de forma diferente ou adiar, mas a realidade é que tudo isto pode tornar o luto ainda mais violento.


Estamos mais distantes fisicamente, o isolamento que se impõe pode agravar a dor, o sofrimento, a angústia de quem fica, mais longe dos outros significativos, que são essenciais no processo de luto, como suporte, apoio e contenção emocional.


É verdade que por amor estamos longe, mas a ausência da despedida de quem se perde, a ritualização, a impossibilidade de outras experiências que para muitos facilita a vivência e o processo de luto não é possível e algumas coisas ficam por fazer e o vazio por vezes aumenta.


Mas como pudemos atenuar este sofrimento?


Facilitar o processo de despedida.


  • Cerimónias mais intimas

  • Procurar não se culpar por não poder ter estado presente, á algo que não estava nas suas mãos, no seu controlo.

  • Aceitar que muitas emoções podem coexistir e têm de ser vividas, tristeza, raiva, frustração, culpa. Não procure esconder ou conter as emoções, não lute contra o que sente. Aceite que tem de sentir, que é permitido e que não faz mal. É doloroso, mas necessário.

  • Não se isole, procure suporte entre a família e amigos, partilhe pensamentos e sentimentos, reduza a solidão que muitas vezes se tem a perceção de maior, devido à dor da perda.

  • Fale sobre o que sente, o falar sobre a experiência da perda não aumenta a tristeza, mas ajuda a elaborar as emoções de forma mais saudável.

  • Viva a experiência do luto com apoio de amigos e família, o luto deve ser vivido com apoio.

  • Cuide de Si- é difícil, mas progressivamente procure retomar as suas rotinas.

  • Aceite e respeite o seu tempo- Não passa a correr, de repente, não lute contra o que sente, como se não fosse permitido sentir.

  • Procure gradualmente ocupar o tempo com algumas atividades que lhe dão prazer. Permita-se de forma progressiva voltar a sentir prazer e alegria, sem culpa.

  • O distanciamento social não tem de implicar distanciamento emocional

  • Não evite chorar e não esconda a tristeza.


Por vezes, mesmo nos processos de luto em tempo normal o sofrimento pode ser tão perturbador que impede a construção e a vivência do luto saudável.


Se vir que não está a conseguir lidar com este processo, que está a ser demasiado doloroso e que está a ser difícil recuperar, não interprete estes sintomas como fraqueza, peça ajuda de um profissional.


Os psicólogos podem ajudar a lidar com a dor e a recuperar a sua vida!


É preciso mesmo num tempo diferente humanizar o Luto.


Sónia Serrão - Psicóloga Clínica

Coordenadora Clínica Navegantes

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